Érico Aguiar Cronemberger *
O governador Wilson Martins, em campanha, mas também antes (quando estava no seu primeiro mandato), sempre falou nas suas prioridades: saúde e educação. Não sejamos ingênuos, pois se trata de uma repetição, um discurso de todos os políticos e candidatos que transformaram essa expressão em algo vazio, sem sentido quando se passa à prática. As notícias são contínuas, assim como essa expressão é dita, sobre os desvios, a corrupção, a impunidade a respeito das verbas da saúde e da educação. De quem é a culpa? Será dos professores? E o governo do Piauí ainda quer ressuscitar a CPMF! Com tantos impostos, para quê mais um? Por que não acaba com os desvios, com essa máfia, com a corrupção?
Recentemente, em uma entrevista, de forma irônica e num cinismo que me enoja, o governador do Estado do Piauí disse que ser professor é uma missão. O que você quis dizer com isso? Será que quis dizer que ser professor é ter que trabalhar sem reclamar ou exigir um salário mais digno? É ter que se contentar com um salário que não te permite comprar nem mesmo livros ou fazer assinatura de um jornal ou revista? É ter que trabalhar em uma escola que não oferece até mesmo cadeiras para os alunos e até uma mesa para o professor? Em uma sala em que muitas vezes não tem ventiladores suficientes para ventilar o ambiente? E por que não ar-condicionado? Todos sabem qual é o clima de Teresina, enfim, de todo o Piauí. Vocês, deputados, também sabem. O atual Secretário da Educação sabe e todos os outros Secretários que estiveram gerenciando a Secretaria de Educação do Piauí. Nas suas salas, falta ar-condicionado? Será que missão está no sentido de trabalhar sem exigir condições mínimas para desempenhar também um serviço mínimo para a sociedade mais carente? Ou missão está no sentido de fechar os olhos para essa corrupção, para esses milhões desviados da saúde e principalmente da educação? É dar aulas em escolas onde o teto ameaça a todos de cair a qualquer momento? Concordo governador, quando diz que é uma missão! Mas não, no sentido que você coloca; Na verdade é uma missão, no sentido de vocação, de partir com vontade, satisfação, feliz e esperançoso para as salas de aula (em boas condições é claro!), para formar cidadãos conscientes, críticos e em potencial para encarar as dificuldades da vida: concorrências nos diversos concursos, testes de emprego, mas com conhecimento e formação suficiente e igual a dos seus filhos que estudaram e estudam em estruturadas e qualificadas instituições privadas. E também, para com isso, tornarem-se livres da ignorância e desses políticos corruptos e mentirosos.
Por exemplo, praticamente 99% dos políticos do Estado do Piauí têm seus filhos, no ensino fundamental e médio, em instituições privadas. E uns 90% estão cursando o Ensino Superior em instituições privadas e de muito boa qualidade. Por que não colocam seus filhos nas escolas públicas? Talvez ou quase certeza porque têm consciência de que não estão fazendo nada para qualificar o ensino público? Têm consciência que não estão melhorando em nada as condições para o desempenho das nossas funções de profissionais da educação pública!
E você Governador, Deputados, Prefeitos, vereadores? Também não deveriam encarar o mandato, que não é uma profissão (não é Senhor Kleber Eulálio e outros que abrem a boca e com toda satisfação dizem que já estão nos seus “n” mandatos), como uma missão? É claro que sim! E com muito mais responsabilidade do que qualquer outro profissional! Pois se disponibilizaram a prestarem, por um determinado tempo, serviços à comunidade em geral. E o que fazem? Mal são eleitos, já estão preocupados com as próximas eleições. (Não é Deputado Fábio Novo e todos os outros?) A preocupação de vocês é, na verdade, permanecerem, o máximo de tempo possível, no poder. E fingir que estão desempenhando a missão, e colocam sempre como um sacrifício, mas na verdade, que sacrifício a ser admirado por todos: privilégios, regalias, casas boas, bons salários, boas condições de trabalho, viagens subsidiadas, auxílios dos mais diversos, luxuosos transportes à disposição, parentes empregados nos seus gabinetes e secretarias. É um verdadeiro negócio, que se pode chamar também de máfia, barganha. Deveriam se envergonhar de mentir, criticar professores e outros profissionais de estarem em greve por exigirem o que vocês deveriam ter feito já há muito tempo. E por que não fazem? Má fé! Má vontade! E também, não querem que a população fique independente do assistencialismo que vocês, políticos em exercício dos seus respectivos mandatos, providenciam para continuar. Quando fazem algo, é pensando em se promover e não simplesmente fazer com a consciência de que não estão fazendo nada mais do que a obrigação. Mas não! Querem homenagens, querem reconhecimento! Querem aplausos! E até mesmo adorações! Que vergonha! Festejam, constantemente, a pobreza, nos bastidores. (Não é Deputado Ismar Marques, Luciano Nunes...).
E o que vocês pensam do que é ser professor? Olha que o que passam para os seus filhos, na boa formação que têm, é de que se formem em qualquer coisa, menos para ser professor. Não é verdade? Por que isso? Pois é dessa maneira, que encaram a nossa profissão, como uma profissão que não é importante, mas na verdade é muito importante e também perigosa. Pois se houvesse realmente o empenho e evitassem os desvios e essa má vontade em fazer uma educação de qualidade para as comunidades carentes, esse sistema, essa máfia pelo poder e riqueza, que estão mantendo há décadas e porque não dizer há séculos, não teria mais como se manter, pois o povo não seria mais essa massa de manobra que a maioria dos políticos engana por todo o tempo exatamente pela falta de instrução, de educação. Mas essa realidade só se percebe nos bastidores e entre vocês políticos. No entanto, nos discursos não é assim. Nos discursos a educação vem em primeiro lugar. Sabe lá o que é primeiro lugar na cabeça desses gestores corruptos, irresponsáveis, descompromissados. Talvez, primeiro lugar, para educação privada, tanto do ensino fundamental como do Superior, que tanto investem, pois como já disse, é onde seus filhos estudam.
Um bom exemplo, Antonio José Medeiros quem muito fez propaganda de uma educação pública de qualidade. Apresenta índices de grande aprovação de estudantes de escolas públicas na UESPI, mas não diz como é feito? Como é? Eles concorrem diretamente com os estudantes de escolas privadas? E com isso tenta maquiar, para quem está de fora do âmbito educacional, a situação de calamidade da educação do Piauí. Pois é, a educação que ele ofereceu para a filha dele não foi pública, mas em uma estruturada escola privada aqui de Teresina. Pública, talvez, no ensino superior. Deve ter sido fácil passar, concorrer com outros jovens que não tiveram a sua preparação. E já que menciono seu nome, Antonio José, gostaria de saber, o que foi feito dos milhões de reais que vieram do FUNDEB para a Secretaria na sua gestão? Por que a Secretaria de Educação do Estado do Piauí está, então, “quebrada”?
E você governador, fico pensando como conseguiu construir seu grande patrimônio com o seu salário de R$ 1.400 reais? Por favor, diga como foi, que com certeza, com esse seu conhecimento e essa sua maneira de saber administrar e multiplicar seu pouco dinheiro, nós, profissionais da educação, não precisaremos nem fazer greve e nem pedir aumento de salário! E diante da nossa situação e da nossa greve, o que fez? Não refletiu, mas pensou e, imediatamente, pediu a ilegalidade da greve. Será o que é ser ilegal para o “Senhor”? Ilegal não seria está sendo acusado de comprar votos? Ilegal não seria de construir um patrimônio de milhões de reais com um salário de R$ 1.400? Ilegal não seria em ficar indiferente com os problemas de saúde, educação precária, falta de estrutura pelos quais o Estado do Piauí passa e você aí preocupada em pedir a ilegalidade da greve? E está assim pelo fato de não sentirmos melhoras, pois quando realmente precisamos desses serviços, não temos. Sou humilhado em muitas clínicas, pois sempre que preciso fazer um exame “pelo IAPEP saúde”, recebo um “não”, ou um “não temos mais atendimentos” para esse mês, ou mesmo não atendemos mais pelo IAPEP; Quando procuro odontólogos que atendem pelo IAPEP e praticamente não existem. É descontado em meu contracheque, mensalmente o valor de R$ 39,81 (contracheque de fevereiro de 2011) além da co-participação que desconta, quando, milagrosamente e com muita paciência, consigo ser atendido. Para onde vai esse dinheiro, caro, Flávio Nogueira que enfim deixou a Assembléia Legislativa, mas não perdeu o mandato; pois deixou para o filho. Que forma de governo nós estamos praticando mesmo? Monarquia ou República? Autoritário (disfarçadamente) ou Democrático? E que democracia é essa que não tenho liberdade para fazer uma greve, para escolher votar ou não, para escolher a minha profissão de vocação e não ter que me preocupar se vou conseguir pelo menos pagar a minha alimentação, energia e água?
Portanto, de quem é a culpa da precariedade dos serviços de saúde e educação? Onde estão os milhões que vão para a educação e para a saúde? De quem é a culpa por estarmos em greve? De quem é a culpa dos diversos casos de denúncia e acusações de corrupção e desvios dessas verbas? E essa greve, de quem é a culpa? Dessa greve, os culpados diretos, podemos falar, são de todos esses que passaram e o que está no Karnak, dos que passaram e dos que permaneceram aqui na Assembléia Legislativa, dos Secretários anteriores e desses que estão aí nas Secretarias de Saúde e Educação, e não fizeram praticamente nada, que solucionasse de fato, os problemas desses dois setores fundamentais? E o Átila Lira ainda vem falar em obter mérito! Ele nunca mereceu ser Secretário seja lá do que for. Interessante que nos discursos, esses dois setores são as prioridades de todos, é unânime. Mas se fosse mesmo prioridade, ao longo de todos esses anos, todos priorizando a saúde e educação, não era mais para estarmos falando dos sérios problemas que insistem em permanecer existindo. De quem é a culpa? E essa greve? Wilson Martins e Átila Lira a culpa é de vocês!
* Professor da rede pública estadual de educação do Piauí
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